Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira)
Eu sempre me perguntei, "E se o tal bicho fosse realmente um bicho? Ele não seria digno de pena?"
Claro que não, afinal, quem liga pra os "bichos"? Humanos acham que animais nasceram para uso deles, acreditam que estão aqui para serem comidos, vestidos, usados e mortos ao seu bel-prazer. Quero que você seja homem ou mulher, criança ou adulto, branco ou negro... Volte ao poema, volte e troque os quatro últimos versos por "O bicho, meu Deus, era um pobre animal sem motivos pra viver." e me diga se o poema ainda "funciona".
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